A cachaça Mineira não tem só tradição, qualidade e capricho, ela também tem organização e até legislação própria. A lei Estadual 13.949 de 11 de Junho de 2001, regulamentada pelo decreto de lei 42644 de 05/06/2002, estabelece o padrão de identidade e as características do processo de elaboração da Cachaça Artesanal de Minas e dá outras providências.

Copos de cachaça – uma bebida espirituosa brasileiríssima
Esta lei tem inclusive uma definição para Cachaça Artesanal Mineira, A bebida fermento-destilada com graduação alcoólica de 38% a 54% v/v(volume por volume), à temperatura de 20°C, produzida no Estado, e fabricada em safras anuais, a partir de matéria-prima básica ou transformada; processada de acordo com as características históricas e culturais de cada uma das regiões de Minas; e elaborada e engarrafada na origem, obedecido o disposto neste Decreto e na legislação federal pertinente.
É interessante observar que esta lei classifica a Cachaça Artesanal Minera em 5 diferentes tipos a saber:
I – Nova: a bebida engarrafada logo após sua extração;
II – Descansada: a bebida mantida em descanso em tonel ou barril de madeira por um período de 6(seis) meses;
III – Envelhecida: a bebida submetida a processo de envelhecimento em tonel ou barril de madeira, por um período mínimo de 18 meses;
IV – Matizada: a bebida resultante da harmonização de um mínimo de 50% de cachaça “envelhecida” com cachaça “nova” ou “descansada”;
V – Reserva Especial: a bebida resultante do processo de envelhecimento mínimo de 36 meses em tonel ou barril de madeira.
Um pouco de história para entender o sucesso deste destilado, a cachaça, tão mineiro e, antes de mais, um marco da cultura brasileira.
A Cachaça artesanal de Minas já era produzida por aqui muito antes da fundação da própria capitania da Minas do Ouro, criada em 1720.
Câmara Cascudo, 1898-1986, em seu “Prelúdio da Cachaça”, observa com sua sociologia o comportamento, de fato, dos tradicionais apreciadores de cachaça com a frase, Atenda-se que o brasileiro é um devoto da cachaça, não um cachaceiro, que se aplica por inteiro aos moradores desta vasta e montanhosa terra dos mineiros, provavelmente inspirado nos dizeres do botânico francês Augusto de Saint-Hilarie, 1779-1853, ao observar o gosto do brasileiro pela cachaça e não pela embriaguez. Minas foi o primeiro lugar que ele visitou dentre tantos outros, a qual consagrou um grande número de páginas.
De uma tragédia histórica nasceu o envelhecimento. A cachaça ia no lombo das mulas dentro de barris, uma viagem de 45 dias. Daí surge a tradição da cachaça mineira ser envelhecida, e a cachaça de Paraty, onde tudo começou, de ter cachaça nova, sem envelhecimento. A cachaça saía branca de Paraty e chegava amarela em Diamantina no norte de minas. Como é mais fácil beber cachaça envelhecida, as pessoas começaram a preferir aquela servida em Minas, que só era daquele jeito porque vinha chacoalhando no barril.
A tradição de madeiras brasileiras no envelhecimento da cachaça surge fundamentalmente no norte de Minas Gerais, um momento em que os produtores de cachaça começaram a buscar independência da Coroa portuguesa, porque barril de carvalho só se conseguia com eles. Desde então, o bálsamo e amburana são as duas madeiras mais usadas no envelhecimento depois do carvalho.
Estas duas madeiras são naturais do cerrado, um bioma que se estende por Minas, Bahia e Goiás, são ainda as madeiras mais utilizadas na produção de cachaça no país depois do carvalho, cada uma delas conferindo notas sensoriais únicas. O bálsamo traz notas herbais, de anis e erva-doce, enquanto a amburana confere um paladar de especiarias como a baunilha, o cravo e a canela.
Parabéns a todos os mineiros apreciadores de cachaça e a todos os alambiques que garantem a tradição da cachaça ou aguardente mineira. Experimente um pouco deste destilado mineiro:
Cachaça Século XVIII
É uma cachaça como tem que ser. Sem diluição, com o máximo que a legislação permite de álcool, 48%, e sem envelhecimento. O Nando é adepto da cachaça pura, sem mistura. A Século XVIII é um alambique em Coronel Xavier Chaves, que produz cachaça há 300 anos, sem interrupções. Hoje, o dono do alambique é Fernando Chaves, da sétima geração de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, de quem é sobrinho tetraneto.
Cachaça Havana
Uma cachaça feita com extremo capricho de mineiro. Seu fundador foi Anísio Santiago(1912-2002), produzida em Salinas norte de Minas, cidade que se tornou referência entre todos os produtores de cachaça do país. Hoje o alambique é operado pelo filo Osvaldo Santigo, inclusive, na versão orgânica, ou seja, produzida com canaviais sem agrotóxicos, ainda mais primorosa.
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