Há alguns anos atrás fui assistir uma peça de teatro do ator e dramaturgo carioca Domingos de Oliveira, denominada “Duas ou três coisas que eu sei dela a vida”. Curiosamente, ele abria a peça servindo pessoalmente doses de cachaça à plateia. Mesmo sem entender, eu e toda a plateia, sorvia com um misto de curiosidade e alegria nossa brasileiríssima cachaça, enquanto a peça prosseguia.

Dramaturgo carioca Domingos de Oliveira autor e ator da peça “Duas ou três coisas que eu sei dela a vida”
Anos depois fui entender de fato o que o renomado dramaturgo queria significar com aquela cachaça servida à plateia deliberadamente. Ele, lúcido como sempre, e sem muita explicação, o que é próprio dos sábios, estava sem dúvida convidando a plateia para celebrar a vida e o teatro, sua máxima expressão, assim como faziam os antigos Gregos e Romanos com o vinho.
Nada contra o vinho, mas usar a cachaça desta maneira, só mesmo para quem de fato é brasileiro e acima de tudo ter consciência disso, pois a cachaça praticamente nasceu com o Brasil e o brasileiro e nada mais justo, elegante e cultural, que tomar cachaça, assim como sempre tomaram vinho os povos da região do mar negro e sempre tomaram tequila os mexicanos.
Não que o brasileiro não bebe cachaça, bebe sim. É a segunda bebida mais consumida no país, a terceira no mundo e o primeiro dentre os destilados mais consumidos aqui. O que nos falta é valorizar a nobreza e a cultura que este nosso destilado de fato tem, assim como fez o estado do Pernambuco, que desde 2008 tornou a cachaça Patrimônio Cultural e Imaterial do estado, segundo estado que mais produz, exporta e consome a bebida.

Cachaça, símbolo cultural brasileiro, são mais de 4 mil rótulos, uma variedade imensa de aromas e sabores
São produzidos mais de um 1,2 bilhão de litros de cachaça anualmente, com mais de 4 mil rótulos diferentes – uma tradição que, nem de longe, surgiu por acaso. Mas sem uma emancipação de fato de nosso destilado, vamos continuar com exportação abaixo de 1% da produção nacional, e é fácil conhecer o mercado que nos aguarda, basta ver o desempenho da cachaça frente a tequila, um destilado emancipado, dentro e fora do México.

Cachaça versus tequila *Instituto Brasileiro da Cachaça (Ibrac) **Conselho Regulatório da Tequila
Adão de Faria e Felipe de Faria
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